sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O mais revolucionário dos revolucionários portugueses: Hermínio da Palma Inácio

Um dos actuais best-sellers nacionais é um livro sobre História - estranho pois os tops de vendas costumam ser ocupados apenas por romances e ficções. O livro ‘Histórias Rocambolescas da História de Portugal’ da autoria de João Ferreira é um misto de livro de curiosidades, jornalismo de investigação e compêndio de episódios caricatos e muito particulares da História de Portugal. Não se trata de uma obra académica de História mas tem o grande mérito de fazer despertar no público geral, através da sua leitura, o interesse e o gosto pela História Nacional – pois os vários episódios são, na medida do possível e não fastidiosamente, argutamente completados pelo indispensável enquadramento histórico.
(sem título) - Jean-paul Riopelle
Da obra de João Ferreira poderia ter escolhido muitas das várias referência rocambolescas – segundo as palavras do autor – mas decidi-me a escolher aquela que mais me surpreendeu e que penso ser a menos conhecida. Escolhi o episódio onde são relatadas as aventuras de Hermínio da Palma Inácio (1922-2009), episódio rocambolesco intitulado de ‘Palma Inácio – o último revolucionário romântico’. Palma Inácio foi o derradeiro revolucionário português do século XX, quiçá de toda a História de Portugal. Tinha formação em mecânica de aeronáutica militar e curso de piloto civil. Já em 1947 participou numa tentativa falhada de golpe de estado encetada pelo General Marques Godinho, tendo por isso sido preso e torturado pela PIDE – apesar de ter sido durante 12 dias sujeito à tortura da “estátua” nunca denunciou o seu contacto. Em 1949 concretizou uma fuga rocambolesca: saltou de uma janela a 15 metros de altura com o auxílio de 4 lençóis amarrados; durante o salto foi detectado pelos guardas, os quais derrubou tendo desaparecido juntamente com aos transeuntes que passavam; posteriormente fugiu para Marrocos num cargueiro.
Concretizada a primeira fuga, foi viver para o Brasil onde montou duas empresas de modo a acumular capital para futuras acções revolucionárias, mantendo-se sempre em contacto com a resistência ao regime de Salazar.
Em 1961 coloca em prática a ‘Operação Vagô’: P. Inácio torna-se o primeiro «pirata do ar» ao, em conjunto com 5 companheiros, controlar e desviar um avião da TAP, fazendo-o sobrevoar algumas cidades do sul (Barreiro, Setubal, Beja e Faro) em voo rasante de modo a bombardeá-las com panfletos revolucionários anti-regime e a evitar ser detectado pelos caças da força aérea; a operação de sequestro foi realizada sem qualquer violência (tendo a tripulação chegado mesmo a colaborar e os passageiros a se aperceberam do sucedido só quando aterraram e foram brindado com champanhe, rosas e um pedido de desculpas de Palma Inácio) e plena de sucesso, tendo novamente P. Inácio fugido às mãos do Regime Salazarista e voltado ao Brasil.
Em 1967 decide, em conjunto com outros revolucionários de esquerda, pôr em prática um assalto que financiaria mais actividades revolucionárias e feriria o orgulho do regime. Assim, assaltam à cara destapada – pois tratava-se de um acto político - a delegação do Banco de Portugal na Figueira da Foz, tendo o grupo fugido com o equivalente a uns actuais 5 milhões de euros para França. Com esse dinheiro os assaltantes políticos compraram armas na Checoslováquia e tentaram pôr em marcha mais uma acção revolucionária que pretendia ocupar a Covilhã. A operação falhou e P. Inácio foi novamente preso e novamente fugiu, desta vez dos calabouços da PIDE. Em 1972 entra clandestinamente em Portugal com um novo plano revolucionário em mente: raptar uma alta figura do regime. O plano de rapto é descoberto e P. Inácio é mais uma vez preso. Desta vez só foi libertado de Caxias depois do 25 de Abril.
A partir de então não encetou mais nenhuma actividade revolucionária, a não ser a de recusar qualquer cargo político. Em 2000 foi condecorado com a Ordem da Liberdade. Morre em 2009 num Lar, cuja mensalidade era paga por amigos devido à sua falta de meios financeiros.

Em suma: um verdadeiro revolucionário!

3 comentários:

  1. ...e azarado! Não podia deixar de referir isto. Tanta luta e tanto azar. MAS hajam muitos/as assim!! Precisamos de pessoas fortes e corajosas que reinvidiquem os direitos e acreditem num mundo melhor.

    Um bem-haja.

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  2. Eu diria que no fim o azar foi compensado e que assim a sua vida foi seguramente animada. Muitos provavelmente gostariam de viver assim uma vida de aventuras, ainda por cima aventuras em nome de causas nobres - um verdadeiro herói.

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  3. idalina vieirajulho 23, 2011

    Concordo plenamente contigo, un verdadeiro herói

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