segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O que é mais seguro: o transporte colectivo ou o individual?

Provavelmente - digo eu especulando - o senso comum diz-nos que é mais seguro viajar num automóvel ligeiro do que num transporte público, mas parece que estatisticamente, e na maior parte dos casos, não é bem assim. Segundo Daniel Murta*, "os riscos no transporte público são sub-avaliados pelos utentes, enquanto os do transporte público são sobre-avaliados pelos próprios e pela sociedade (por comparação com os primeiros)". Esta noção deve-se a dois factores segundo o autor: a falsa sensação de segurança quando se está ao controlo de uma viatura - no caso do automóvel ligeiro; e, fobias e medos, não comprovados estatisticamente, associados à morte colectiva - no caso do transporte colectivo.
Remadores no Chatou - Renoir
Para esta sensação errónea de segurança contribui também  o efeito de tragédia colectiva, muitas vezes explorado e amplificado pela comunicação social e até pelo cinema. Quantos não são os casos mediáticos de acidentes onde a contabilização de vítimas choca e causa medo, quando no fundo muitos mais são os sinistros nos transporte individual. 
Outro aspecto, este muito mais economicista, que tende a tornar os transportes colectivos mais seguros que os individuais, são as questões relacionadas com os seguros e indemnizações. No transporte colectivo, em caso de acidente, o valor das indemnizações atingiria montantes imensos por se tratarem de muitas pessoas, obrigando isso a que os construtores e operadores cuidem muito mais da segurança - ainda que pelas razões menos correctas. Por outro lado, no transporte individual, os custos e riscos são suportados apenas pelo próprio condutor, quanto muito pelo fabricante de automóvel também.
Assim, a segurança rodoviária pode ser uma questão económica, mais do que preocupação pela vida humana. Mas que dizer quando se comprova que são os próprios indivíduos que descuidam a sua segurança ao assumirem que, por serem eles próprios os condutores, circulam muito mais seguros. Não pensarão isso todos os condutores? Provavelmente sim, e provavelmente continuarão a pensar, a não ser que, como no caso dos transportes colectivos, a economia faça o seu papel de promotora "segurança".

Fontes Bibliográficas:
* Murta, Daniel. "Quilómetros, Euros e pouca terra - Manual de Economia dos Transportes". Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2010.

2 comentários:

  1. Realmente faz sentido, num mundo vorazmente capitalizado como esse, a segurança ser regulada pelo fator financeiro em detrimento do fator humano. O texto convence sobre o menor perigo dos transportes coletivos: deveriam ser mais utilizados por isso. Ainda assim, é lamentável a condição de grande parte desses veículos.

    No Brasil há um descaso infeliz com os trens. Devido esse fato, atentei-me mais ao caso do ônibus e do metrô, que estão freqüentemente apinhados de gente, sem lugares suficientes e por vezes em frangalhos. Esses fatores de descaso, comuns em vários lugares, devem diminuir em muito a segurança de transportes coletivos.

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  2. Eu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote (88anos),digo que sou a favor dos transportes colectivos e no que respeita a automóveis ligeiros,eu que quando rapaz gostaria de ser mecânico de automóveis,devido aos trambolhões que dei pela vida fora,nem carta de condução consegui e como tal nunca tive automóvel,ainda que aqui na Holanda ganhando florins o poder de compra fôsse melhorado, todavia o idioma estranho e difícil e a minha idade já acima dos 40 anos,não me permitiu tirar carta de condução e de possuir carro.Não é por inveja ou despeito mas digo que o automóvel particular embora seja para muita gente indispensável para o seu trabalho,todavia em meu entender,é um dos símbolos do individualismo burguês.

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