quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Os limites da liberdade em Democracia – O Paradoxo da liberdade para a Antidemocracia

No século XVII Descartes resolveu um paradoxo. Foi nesse século que o empirismo desabrochou e o nascimento daquilo que seria o método científico - que pressupunha que tudo pudesse ser colocado em causa. Assim, Descartes, como filósofo de topo do seu tempo, quis colocar tudo em causa (nem que fosse aparentemente). Chegou à conclusão que se poderia colocar praticamente tudo em causa menos a sua própria existência, ou seja, se ele próprio enquanto ser não existisse não poderia colocar em causa a existência de tudo o resto. Daí então a sua famosa frase ou expressão: “penso, logo existo”.
América, uma profecia (ilustração do livro) - William Blake
Pegando nesta “artimanha intelectual” de Descartes para evitar o paradoxo – uma afirmação que origina uma contradição lógica – parto para o conceito de Democracia. A esse tipo de governo e organização social associa-se a liberdade – uma não vive supostamente sem a outra. Sendo que é, pelo que se conhece, nas sociedades democráticas onde se consegue atingir maiores e mais desenvolvidos níveis de liberdade individuais e coletivas. Em teoria a liberdade que se permite numa democracia poderia – e pode mesmo pois já aconteceu na história – criar um paradoxo. Ou seja, o sistema democrático poderia ser obliterado se permitir a liberdade de se atentar contra ele. Partindo deste princípio, as democracias podem permitir todas as liberdades menos a de deixarem que os seus membros decidam em liberdade acabar com elas, limitando depois então as liberdades em última estância. Assim, arrisco a dizer: “Sou livre e democrata, logo sou contra a liberdade de ser antidemocrata”.
Talvez este seja um dos aspetos paradoxais que impeçam que as democracias possam ser completamente democráticas e livres, pois seria incoerente que se pudessem autodestruir, pois assim se violariam os seus próprios princípios de liberdade universais.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Persiste a tendência de tornar bens e serviços coletivos em individuais?

Numa breve (até leve e simplista) análise da evolução histórica das sociedades, tentando definir um padrão continuo, muitos equipamentos, serviços e funções sociais começaram por ser coletivos/públicos. Mas a tendência individualista e a capacidade dos sistemas produtivos em série (segundos os modelos Fordistas e Tayloristas) conseguiram disponibilizar alguns desses bens diretamente a cada pessoa, individualizando-os. Por exemplo: os banhos e WCs começaram por ser públicos (basta lembrar a antiga Roma) e posteriormente tornaram-se em comodidades privadas; os relógios e sinos transformaram-se em relógios de sala ou parede coletivos, depois em objetos individuais de bolso ou pulso; Os telefones começaram por ser coletivos, passando também a equipamentos familiares ou empresariais, e mais recentemente tornaram-se completamente individuais com a generalização dos telemóveis.

Perfil de Tempo - Salvador Dalí
 Ou seja, estas tendências foram possíveis porque os sistemas produtivos (em massa) o permitiram, mas porque os modelos de consumo se alteraram. Estas comodidades continuariam provavelmente a ser mais sustentáveis se fossem de uso coletivo, mas o individualismo e prosperidade económica permitiu que a “privatização” fosse viável. O mesmo não aconteceu com outros equipamentos urbanos – orientando esta reflexão para o urbanismo -, tal como hospitais, universidades, estádios, etc*. Ainda que seja possível alguém ter, por exemplo, uma piscina privada, será difícil mesmo para uma família da classe média ter uma clínica privada em casa.
Curiosamente, nos dias que correm, redescobrem-se as formulas coletivas antigas. Começam a surgir cada vez mais sistemas alternativos que contrariam os modelos consumistas individualistas, especialmente pela crescente consciência ambiental. A reutilização de bens por opção é uma realidade, tal como a partilha – basta lembrar os sistemas de “car sharing” e “car pooling”.
Os modelos contemporâneos de desenvolvimento urbano, que se ligam com todo o tipo de desenvolvimento no geral, tendem para soluções heterogéneas* e adaptadas a realidades físicas, sociais, económicas e outras particulares (desde a grande cidade à realidade de uma pequena rua ou bairro, sabendo-se que a solução para cada caso quase nunca é replicável noutras realidades). Inseridas nessa tendência reforça-se a necessidade de assegurar a sustentabilidade através da utilização racional de recursos através de partilha, reutilização e reutilização. Assim, em parte, contraria-se a individualização e certos bens e serviços, sendo que existe cada um novo ponto de equilibrio a terá peso incontornável: a sustentabilidade. Já não é aceitável consumir mesmo que tal seja economicamente viável no presente, pelo menos já não é válido em todos os locais, para tudo e todos os casos.

Mais alguns texto do blogue relacionados com o tema do artigo:

Referências bibliográficas
      *Acher, François; 2012. "Novos Princípios do Urbanismo". Livros Horizonte.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Cleópatra era Feia?

Alguns estudos e investigações mais recentes revelam que a imagem popular da a última governante do Egipto faraónico talvez não seja verdadeira. Parece que Cleópatra não era particularmente bonita, muito menos portadora de uma beleza capaz de hipnotizar. Os registos romanos, talvez encomendados e orientados por razões políticas, sejam apenas manipulações falsas. De facto houve um relacionamento entre Cleópatra e dois dos homens mais poderoso da época, cada um a seu tempo. Primeiro foi o envolvimento com Júlio César e depois com Marco António. Os cronistas romanos fizeram-nos crer que tanto Júlio César como Marco António teriam cedido aos encantos magnetizantes da beleza e sexappeal da exótica rainha do Egipto, tentando fazer diminuir a sua excecional educação/cultura e capacidades intelectuais/políticas – algo mal visto pela mentalidade romana daquele tempo, fruto de uma sociedade patriarcal que secundarizava o papel social/político da mulher.
Cleopatra testando veneno em condenados - Alexandre Cabanel
Estudos de Sally Ann Ashton e Joyce Tyldesley, com base em antigos registos, estatuária, numismática e outro tipo de gravuras, sugerem que Cleópatra seria de facto exótica mas que não seria um exemplo espetacular de beleza, podendo ser considerada, pelos padrões atuais, até feia. 
Reconstituição de Cleopatra. Fonte: Ancients Behaving Badly

Numa das reconstituições Cleópatra assume um aspeto pouco simpático: testa proeminente, queixo pontiagudo, lábios finos e nariz encurvado. Noutra reconstituição foi-lhe considerada como uma jovem portadora de uma beleza exótica com forte mistura étnica europeia e africana.
Reconstituição de Cleópatra. Fonte: Daily Mail 
Restam então muitas dúvidas sobre o aspeto real de Cleópatra, mas certo é que as imagens que o cinema nos deixou, especialmente com Elizabeth Taylor, estão quase de certeza muito longe da realidade. De qualquer dos modos, mesmo que Cleópatra não tenha sido a mulher mais bela do seu tempo, teve sem dúvida uma capacidade ímpar de cativar os homens mais poderosos de então, fascinando também as gerações posteriores até hoje. Bela ou não, Cleópatra tinha com certeza algo de muito especial, seguramente um personalidade muito forte e cativante, tanto que continuamos a falar dela mais de 2000 anos depois.

Fontes bibliográficas:
Vídeos

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Heidegger e um hipopótamo chegam às portas do paraíso – A Morte e a Imortalidade para os filósofos

Socorro-me de um livro improvável para ensaiar algumas respostas sobre a nossa mortalidade, mais concretamente do livro de humor filosófico “Heidegger e um hipopótamo chegam às portas do paraíso” (dos mesmos autores de “Platão e um Ornitorrinco entram num Bar”, aqui já referido no blogue). Apesar de sabermos que vamos morrer dificilmente nos imaginamos a um dia deixar de existir de facto (ver Ernest Becker). Se assim não fosse não haveriam tantas tentativas e teorias para entender a morte, e por consequentemente ensaiar a imortalidade ou o que eventualmente poderá vir depois desta nossa existência. São muitas as referências neste livro - sempre em tom bem-humorado - que valem a pena referir. 
Marat Assassinado - Jacques Louis David
Na tentativa de buscar a imortalidade, para fugir à fatalidade da morte, desenvolveram-se soluções para todos os gostos, e os filósofos foram particularmente criativos nisso – ainda que por vezes incompreensíveis. As várias religiões ofereceram e continuam a oferecer várias possibilidades para a vida depois da morte terrena, umas recorrendo a conceitos de paraísos ou infernos eternos, outras através de reencarnações, e ainda umas outras que fugiam em parte a estes arquétipos. Mas o que interessa para este texto é o modo como os pensadores e suas filosofias lidam com a morte. Por isso, aqui vai, de um modo mais ou menos cronológico!
Platão terá sido o principal teórico da alma. Ao definir concreta e metodicamente a alma como algo imaterial e diferente do corpo que morre, permite a possibilidade da imortalidade dos seres humanos através da persistência das suas almas. 
Séneca, como estoico que era, não considerava que uma longa vida fosse algo de importante. Para ele a qualidade era mais importante que a quantidade, pelo que a imortalidade era assim relativizada e diminuída. Essa tese seria posteriormente recuperada por Camus nas suas reflexões sobre o suicídio.
Descartes colocou a visão dualista de Platão em causa, pois como poderiam a alma e o corpo ser separáveis se ambos são interdependentes e dependentes entre si. Surgia a dúvida que levaria a questionar a imortalidade segundo os antigos ensinamentos. Assim Leibniz definiu essa dualidade como um funcionamento síncrono perfeito e dependente, criado por Deus. Em oposição, Huxley referiu que a consciência era apenas um efeito secundário do corpo, mais concretamente do cérebro. 
Para Kierkegaard o problema da morte prende-se com a noção de uma vida finita, uma em que nunca poderemos experimentar todas as coisas nem viver tudo. Assim, para evitar a necessidade de querer a imortalidade, o melhor é não viver mais que momentos triviais. Assim dispensa-se a imortalidade pois não haverá necessidade de viver mais do que o estritamente necessário. Schopenhauer segue mais ou menos pelos mesmos princípios, pois considera a vida um constante processo de morte, e são as espetativas que a tornam num sofrimento e frustração, por isso, tal como Kierkegaard, o melhor é viver de um modo simples. 
Para Freud é o subconsciente que inventa um ser supremo de modo a garantir uma sensação de segurança para com a grande dúvida e medo que é a morte. Já Jung defendia que o subconsciente, com a idade, se preparava para aceitar e lidar com a morte, em oposição à razão. 
Heidegger considera que o melhor modo de lidar com a morte é aceita-la, só assim se poderá viver de facto. Para ele a eternidade é entediante e algo a evitar, sendo que importa fazer da vida uma sequência de grandes momentos que nos levem a desfrutar dela ao máximo.  
Referindo de novo às teorias de Becker, um modo de atingir a imortalidade, ainda que indiretamente, é optar por deixar grandes obras ou feitos para que se seja recordado na posteridade. Não será uma imortalidade inteira, consciente ou ativa, mas à falta de melhor é algo a que muitas pessoas se agarram. Outras especulam e depositam todas as esperanças em adquirir a imortalidade através das ciências médicas, via criopreservação, clonagem, robotização biónica e um infindável rol de ficções que parecem aproximar-se cada vez mais da realidade.
Em jeito de tentativa de resumo: a morte é inevitável, o modo como cada pessoa lida com essa inevitabilidade é que pode ser muito variável.

domingo, 8 de setembro de 2013

Em Portugal as Liberdades e a Democracia saíram do autoritarismo Militar

A Idade Contemporânea, de um ponto de vista histórico universal – que acaba por ser só da própria Europa, ou não fossem os meios académicos ainda muito eurocêntricos -, começa com a Revolução Francesa, que será o marco a partir da qual se darão mudanças que ditaram o fim do Antigo Regime – o dos privilégios de classe, tais como aqueles que tinham a nobreza e o clero. A partir de 1789 foram muitas as revoluções liberalizantes, umas com sucesso outras nem por isso, umas mais no sentido da democratização outras no sentido autoritário ou de defesa do domínio de certas elites.
Antítese da Calma - António Dacosta
Em Portugal, depois das invasões francesas, o século XIX foi muito rico em instabilidade, golpes e revoluções, no fundo não muito diferente das atribulações da Europa de então. O século XX não foi muito diferente, pelo menos se excluirmos os quase 40 anos que durou o Estado Novo e os últimos 25 anos do final do século. Se pela Europa fora as revoluções se davam tanto por força de mobilizações de civis e militares, por cá a regra parece ter sido quase sempre o domínio do militar. Lembremo-nos dos golpes de 1820 – o primeiro golpe de sucesso do liberalismo em Portugal – e de todos os restantes que daí em diante que foram apoiados ou dirigidos diretamente pelos corpos militares. Obviamente que o poder das armas e a organização da instituição marcial são os modos eficazes de conseguir fazer uma revolução política, fazendo cair à força o poder instituído. No entanto, o facto curioso prende-se com a própria natureza das organizações militares. Como sabemos, a estrutura dos exércitos não é, nem de perto nem de longe, democrática. Os soldados não elegem as chefias, nem a progressão na carreira militar se dá por voto de representação, nem sequer perante popularidade entre pares. Aliás, provavelmente o peso dos pares é mesmo insignificante, pois são hierarquias rígidas que dominam e às quais é necessário obedecer. Ou seja, o sistema militar tem muito mais de feudal e autoritário que democrático. Apesar disso foram, especialmente em Portugal, os militares que forçaram a implementação do liberalismo e depois da democracia, ainda que outros tenham, em determinadas circunstâncias, criado as condições para surgirem ditaduras. Esta relação entre militares e democracia não deixa de ser paradoxal. A explicação possível que me ocorre é que, estando sujeitos a códigos de conduta tão rígidos e hierarquizados, sabem melhor do que ninguém o valor que tem a liberdade. Outra opção poderá ser as da características da própria sociedade portuguesa, que nesses tempos, não muito distantes, ainda era muito ruralizada e facilmente controlável pelas elites tradicionais - se é que ainda não continua a ser. 

Referências bibliográficas
Medina, João. 1994. "História de Portugal Contemporâneo: Político e Institucional". Universidade Aberta.
Medeiros, C. A. (Direcção),2005-2006. "Geografia de Portugal". Círculo de Leitores
Ramos, Rui (coordenação), 2012. "História de Portugal". Esfera dos Livros
Rémond, René, 1994. "Introdução à História do nosso tempo". Gradiva.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A Gaiola Dourada – Um filme de caricatura e cliché para compreender os Emigrantes

Volto, depois de uma ausência de algum tempo, ao cinema. Volto, embora tivesse decidido diminuir a preponderância desse tema aqui no blogue, pois trago um filme especial. No final do filme em causa pensei para comigo – aqueles euros, ainda consideráveis que paguei pelos bilhetes, valeram a pena! O filme é luso-francês, com muitos atores portugueses, luso-descendentes e franceses talentosos. O ambiente é o da comunidade portuguesa em Paris. 
Trata-se de um filme simples, com uma trama e enredo habitual ao que se assiste no cinema mainstream, no entanto é quase documental. Apesar de ser uma caricatura de clichés – com muitos estereótipos e alguns exageros das personagens utilizadas para fazer aquele particular retrato social -, ora com comédia ora com drama, retrata com alguma fidedignidade a comunidade emigrante portuguesa que de final do século XX rumou para França, seus descendentes, sentimentos, valores, imaginário e relações que criaram no país de acolhimento. É o próprio realizador que assume o estilo caricatural. É notório que Ruben Alves conhece muito bem a realidade que pretende descrever. Ele próprio é luso-descendente e seus pais emigrantes – a mãe porteira e o pai operário da construção civil.
Assim, para quem quiser ter um momento light de cinema animado e, ao mesmo tempo, perceber um pouco melhor como vive a comunidade emigrada em França, aconselho a conhecer A Gaiola Dourada. Quem tenha visto e não tenha apreciado está no seu direito - como é óbvio -, mas se calhar isso poderá significar que ainda está longe de compreender os nossos emigrantes, que, por muitas razões e circunstâncias da vida, foram forçados a uma adaptação a realidades muito distintas dos seus meios de origem, aculturando-se vincadamente. Desse misto de culturas, encarnadas por pessoas bem reais, resultou uma nova cultura que tenta nunca perder a ligação à origem, ainda que a própria origem se institua como um imaginário quase mitológico.

Nota: para quem tiver mais curiosidade em compreender um pouco mais a emigração em França, especialmente a portuguesa, fica aqui a sugestão de outro texto, de cariz sociológico - Porque são diferentes os Emigrantes Portugueses em França?

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Os edifícios e estátuas da antiguidade clássica eram surpreendentemente coloridos

Cores da Venus de Milo
Os edifícios, estátuas e outras criações artísticas volumétricas da antiguidade eram coloridas. Aquelas belas estátuas de mármore, muitas delas em muito mau estado de conservação (muitas sem membros), da época clássica (grega e romana), eram completamente pintadas, e com cores bem fortes quando foram criadas. Por desconhecimento, os artistas da renascença - destacando-se a grande escultor Miguel Ângelo - tentaram recriar a perfeição das estátuas antigas, tal como os arquitetos tentaram recriar a arquitetura desses tempos imemoriais de glória artística, tentando seguir os modelos originais. No entanto o que lhes chegou foram apenas fragmentos e partes corrompidas e adulteradas pelo tempo e ação humana. Por exemplo, desconheciam, pois não havia meio de comprovarem, que todas essas criações eram pintadas.
Este conhecimento da policromia da arquitetura e estatuária clássica não é novidade, pois há já mais de dois séculos que arquitetos e cientistas como Souffort, Le Roy, Hittorf e Garnier começaram a descobrir essa surpreendente decoração [1].
A novidade passa pelas reconstituições que têm sido ensaiadas. Atualmente muitos investigadores (recorrendo a ultra-violetas e outros ensaios/técnicas) e artistas começam a tentar recriar a aparência dessas antigas [2][3]. O aspeto final pode ser de facto surpreendente, pois está ainda bem vincado no nosso imaginário coletivo as imagens de uma antiguidade decorada e construída em tons brancos, de serenidade e sobriedade. Afinal a realidade não era assim. O mundo antigo era colorido e vivo, às vezes até “berrante” [3][4]. Os artistas da renascença acabaram, através do engano da perceção a que foram induzidos, por criar um modelos estéticos diferentes daquilo que queriam imitar e recriar. A história está cheia destes acasos
Com base neste exemplo facilmente concluímos que muitas das ideias formadas que temos do passado são imprecisas pela informação alterada e deturpada que nos chegou. Também corremos o risco de sermos mal retratados no futuro, embora não talvez isso pouco nos deva preocupar. Quanto ao passado, o melhor será manter uma mente aberta e capaz de assumir as cores do conhecimento mais atualizado, pois não saberemos quais os erros e influências erróneas que podemos continuar a assumir como verdades vindas do passado.
Reconstituição da estatuária do Partenon - Atenas

Referências:
[1]  Choay, Françoise; 2010; "Alegoria do Património". Edições 70
[2] “Tracing the Colors od Ancient Sculpture”, video disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=7UsYHo5iarM
[3] “True Colors”, disponível em: http://www.smithsonianmag.com/arts-culture/true-colors.html#
[4] ”El auténtico y colorido aspecto de las estatuas clásicas”, disponível em: http://es.noticias.yahoo.com/blogs/arte-secreto/el-aut%c3%a9ntico-y-colorido-aspecto-las-estatuas-cl%c3%a1sicas-121014767.html

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Uma câmara fotográfica replica o funcionamento do olho humano? É biomimética?

Apesar do título ser longo e ter uma palavra pouco comum, o objetivo deste texto é ser o mais simples possível, relacionando o funcionamento de uma câmara fotográfica com o modo natural como “trabalha” o olho humano e adotamos alguns comportamento humanos inconsciente a esse funcionamento. Ou seja, a tese – que nem é muito original - aqui presente pretende demonstrar que se pode considerar uma câmara fotográfica como uma recriação do olho humano, logo um ato de biomimética.

A simplificação será a mais possível, pois facilmente se poderia cair em termos da ótica e biologia demasiado complicados. Então aqui vai.


lágrimas (1932) - Man Ray
Se deixarmos passar, através de um pequeno orifício luz para o interior de numa câmara escura, vinda do exterior, no local onde esse raio se projetar irá surgir uma cópia invertida da imagem exterior. Ou seja, isto é mais ou menos o principio base de funcionamento tradicional de uma “câmara escura” - um fenómeno ótico que acontece nas nossas câmaras fotográficas e nos nossos olhos. No caso das máquinas fotográficas essa projeção é registada em filme ou em sensor digital, o que permite posteriormente revelar fisicamente esse “registo de luz” – ou não significasse o termo fotografia “desenho de luz”. Para o olho humano, simplificando, o mecanismo é semelhante, com a projeção e ser lida e registada pelo cérebro humano através der impulso elétricos no nervo ótico.

Abordando as características das objetivas (ou lentes embora seja menos correto este termo, pois uma objetiva é normalmente composta por conjuntos de lentes) das máquinas fotográficas podemos encontrar justificações biológicas para alguns comportamentos humanos involuntários quando usamos os nossos olhos, pois o cristalino e a pupila funcionam mais ou menos como as objetivas. Por exemplo, é a dilatação da pupila que controla a entrada de luz para o interior do olho (a tal câmara escura), tão necessária para a adaptação às condições de luz natural que nos permite literalmente ver. Quando há pouca luminosidade a pupila dilata de modo a deixar entrar mais luz. O mesmo é válido para as objetivas, que têm vários tipos de abertura (normalmente as que permitem maiores aberturas, com melhores desempenhos em condições de pouca luz são as mais caras). É por isso que quando saímos de um local escuro para um outro espaço muito iluminado ficamos encadeados, conseguindo ver só passado algum tempo, somente quando a pupila se ajustou à abertura adequada para se construírem imagens.

No entanto, quanto maior for a abertura, tanto da pupila como da abertura do diafragma da objetiva, menor será a profundidade de campo - algo que se pode definir, simplificadamente, como definição em todos os planos nas várias distâncias: quanto maior a profundidade de campo maior a definição em todos os planos até uma determinada distância em profundidade de uma imagem. Assim, com aberturas pequenas conseguimos focar tanto o que está perto como o que está longe. É por isso que, inconscientemente, quando queremos ver melhor ao longe colocamos, tendencialmente, a mão sobre a testa a sombrear o olho, de modo a fazer diminuir o tamanho da pupila  e podermos focar o objeto lá longe (com uma maior profundidade de campo).

Muito mais haveria para falar entre a relação biomimética das câmaras fotográficas com o olho humano, mas o artigo vai longo. Quem sabe talvez num próximo.

Referências Bibliográficas

  • Ang, Tom; 2009. "Manual de Fotografia Digital". Civilização Editora.
  • Santos, Joel; 2010. "Fotografia - Luz, exposição, composição, equipamento". Centro Atlântico.
  • Wikipédia, "Olho Humano", disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Olho_humano




sexta-feira, 28 de junho de 2013

A Sociedade Portuguesa é Malthusiana?

Muitas coisas se poderiam dizer sobre a sociedade portuguesa, adjetivações boas e más. Uma delas é que se trata de uma sociedade Malthusiana [1]. Não se trata de um palavrão ofensivo, nem pouco mais ou menos, mas também, analisando o seu significado demográfico, social e económico, pode não significar nada excecionalmente bom.
Pastor - Amadeo de Souza Cardoso
A teoria Malthusiana, de um modo muito resumido, defendia que o crescimento da população, por assumir, tendo em conta os registos históricos estatísticos, um crescimento com base numa progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos seguia pelo crescimento aritmético, daria origem a uma incapacidade futura de alimentar a população. Para além dos dois crescimentos a tempos diferentes, criando o tal défice entre alimentos e pessoas a alimentar, a produção de bens agrícolas teria sempre um limite máximo que não poderia ser ultrapassado [2].
As teorias Malthusianas, que defendiam o controlo apertado da natalidade, foram refutadas depois da revolução industrial devido aos novos desenvolvimentos tecnológicos que fizeram subir muito a produtividade agrícola.
Atualmente, os índices de natalidade de Portugal nas últimas década observa-se uma forte queda [3]. A natalidade não está a assegurar a reposição das gerações. Isto deve-se, muito provavelmente, independentemente de razões do crescente individualismo da sociedade portuguesa, aos recursos disponíveis. Já não se trata de alimentação propriamente dita, mas mais de todos os custos que acarreta uma vida contemporânea em que a competitividade pode depender muito das condições de partida dos indivíduos. Ou seja, há, tendencialmente, a noção de que os meios que as famílias dispõem não são suficientes para proporcionar a um número considerável de filhos os padrões de vida ótimos e que os farão ter sucesso de um modo geral.
Assim, a sociedade portuguesa assume comportamentos neomalthusianos, para o bem e para o mal. Característica nem sempre replicada em paises semelhantes ou coparáveis a Portugal.
 
Referências
[1] - Arroteia, Jorge Carvalho; 2007. "Leiria e o pinhal litoral : sistema geográfico e contextos de desenvolvimento". Universidade de Aveiro.
[2] - "Teoria populacional malthusiana", disponível na Wikipédia.
[3] - "Nascimentos e Fecundidade", disponível na Pordata.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O fraco crescimento da economia portuguesa deve-se aos serviços?

Pretende-se com este texto aproximar algumas explicações para os atuais défices, e que vêm de alguns anos, para o fraco crescimento e performance da economia portuguesa. Fica então esse arriscar de conjeturas.
Auto-retrato com o grupo da Brasileira  - Almada Negreiros
 
O processo de desenvolvimento económico de um país pode-se simplificar, apesar de todos os erros e imprecisões provenientes do particular, em três fases interligadas (Costa et all, 2011):
  1. O desenvolvimento de uma economia arranca com um setor agrícola dominante, com uma produtividade e riqueza associada que cresce lentamente.
  2. Posteriormente, ocorre a industrialização, ocorrendo uma transferência dos recursos e da produtividade dos setores primários para o novo setor naturalmente mais produtivo, tendencialmente o mais industrializado.
  3. Por fim o crescimento económico é dominado pelo setor dos serviços, num setor que tende a apresentar níveis de produtividade e taxas de crescimentos inferiores ao industrial. Com esta terceira fase, as transferências de produtividade e recursos acumulados, tendem a fazer reduzir a própria produtividade de toda a economia, pois como se disse o setor secundário (indústria) é, regra geral, mais produtivo que o terciário (serviços).
Seguramente que existirão muitos casos particulares a escapar a esta simplificação, mas deste modo pode-se ter, pelo menos, uma noção básica dos principais e mais comuns processos de desenvolvimento que seguem as economias padrão.
Tendo em conta que a economia portuguesa tem vim a cair nos últimos anos, e mesmo em décadas anteriores tem crescido abaixo do que seria expectável, a partir do modelo anterior, e cruzando-o com outros dados, poderemos tentar encontrar algumas explicações e constatações.
Num outro texto já se abordou aqui no blogue o problema da baixa produtividade como um dos principais condicionantes da economia portuguesa (Amaral, 2010). Partido desse axioma poderemos encontrar na evolução e predomínio dos setores de atividade em Portugal uma possível explicação para a nossa pouca produtividade e fraco crescimento económico. Se atendermos a que a industrialização foi bastante tardia em Portugal, e que quando ocorreu assentou, salvo algumas exceções, em processos tecnologicamente pouco intensivos e que recorriam a mão-de-obra barata e não especializada, poderemos perceber o pouco valor acrescentado que traziam já na altura. Se atendermos que esse período de crescimento industrial não foi muito extenso e que o setor nunca foi sequer dominante (ver texto sobre emprego; INE, 2013), facilmente compreendemos que nunca se acumularam os capitais necessários para uma industrialização mais tecnológica e com mais valor acrescentado. Os acréscimos de produtividade e capitais vindos do setor agrícola e do industrial possível, mesmo que reduzidos, passaram quase diretamente para o novo e ascendente setor dos serviços (Costa et al, 2011). Assim, nestes complexos processos de transferências de produtividades e capital, fomentou-se precocemente um setor terciário sem ter existido uma indústria de suporte forte. Logo, ficamos muito limitados na nossa produtividade, condicionando assim o nosso crescimento e pujança económica global.
Muitas outras teorias e explicações válidas à parte, estas palavras são apenas uma tentativa de aproximação à compreensão do atual estado económico de Portugal. Provavelmente, antes de atuar, seria necessário primeiro estudar e perceber.

Referências bibliográficas
  • Amaral, Luciano; 2010, “Economia Portuguesa, as últimas décadas”. Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa.
  • Costa, Leonor Freire; Lains, Pedro; Miranda, Susana Munch; 2011, “História Económica de Portugal – 1143-2011”. Esfera dos Livros, Lisboa.
  • INE; 2013, “Portal do Instituto Nacional de Estatística”. Acedido entre 15 de Maio e 30 de Maio de 2013: http://www.ine.pt/xportal
 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Os Bichos humanos e os Humanos que são piores que bichos de Miguel Torga

Li os Bichos de Miguel Torga quase por auto-obrigação, já há alguns anos. Propus-me, na altura, em jeito de exercício forçado, a tentar ler algo que fosse de um autor conhecido português e que o volume da obra em causa não me assustasse à partida. Com hábitos de leitura bem reduzidos à data lá comecei a juntar, lendo, as palavras que Torga juntara nesse pequeno compêndio de contos sobre animais.

Natureza morta com caça, fruta e vegetais num mercado - Frans Snyders
No livro contam-se pequenas estórias, de vidas simples, mas pejadas de supostos sentimentos e sensibilidades de vários animais. As personagens, grande parte delas animais domésticos ou em contacto, seja por que motivo for, com a sociedade humana, comportam-se e sentem como pessoas. Aliás, os tais bichos retratados são, tendencialmente, muito mais humanos nos comportamentos e atitudes que os próprios homens e mulheres que também surgem nas narrativas.
Talvez seja uma sátira social intemporal, talvez apenas um acaso literário alegórico, ou talvez nada disso. No entanto, a sensação que me ficou foi a da intencionalidade de fazer ver à sociedade humana que a sua própria humanidade comporta variedade e indivíduos que muitas vezes se comportam como bichos, ignorantes do que afinal é (ou pode ser) o comportamento animal.
Seremos mais bichos e selvagens que os próprios animais, ou a nossa humanidade é apenas uma manifestação de comportamento selvagem e animal próprio de uma espécie que tenta sobreviver entre tantas outras, mesmo depois de supostamente ter dominado o planeta e todas as outras espécies?
Seja como for, vale a pena ler r conhecer estes “Bichos”.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Pequena História Recente do Emprego em Portugal e seus Contrastes Regionais

Desde a fundação de Portugal que se registam fortes contrastes na distribuição da população sobre o território português, especialmente entre norte e sul, e litoral e interior (Lema & Amp; Rebelo, 1996). Nessa ocupação, até ao século XX, destacava-se uma maior concentração de população nas zonas de mais intensos recursos: primeiro nas zonas agrícolas; depois junto aos grandes portos comerciais (Costa et al, 2012; Mattoso, 1997; Ramos, 2011).
Mas desde 1950 ocorreu uma grande transformação económica em Portugal que mudou o radicalmente o emprego. A adesão à OECE, EFTA e o aproveitamento dos planos de financiamento internacionais de reconstrução da economia europeia industrializaram o país (Costa et all, 2012). Parte dessa modernização económica, via industrialização, assentou no recurso a mão-de-obra desqualificada que era onerada por baixos salários. Desde então verificou-se um declínio da sociedade tradicional rural (Medeiros, 2006), primeiro com a nova industrialização e depois com terciarização resultante da expansão das atividades de serviços e do próprio Estado Social, também relacionadas com a adesão à CEE e depois com a crescente integração europeia (Costa et all, 2012; Ramos, 2011).
Hoje a tendência para a concentração de população em torno das zonas urbanas (polos metropolitanos do Porto e Lisboa, e cidades médias) de melhor acessibilidade, onde existe mais oferta de equipamentos, bens e serviços, contribuiu para o desenvolvimento e reforço do setor dos serviços (Medeiros, 2006) – que é neste momento o setor que mais população ativa emprega (Pordata, 2013).

Figura 1 – População residente empregada como quadros superiores e profissões intelectuais e científicas, relativamente à população residente empregada, por concelho, em 2001. Fonte: Medeiros (2006)

Por outro lado, as taxas de atividade mais baixas, em oposição às zonas onde a população ativa tem maiores qualificações, situam-se nos concelhos mais envelhecidos e menos urbanos, tal como se demonstra na Figura 1 e 2. 
 
Figura 2 – Taxa de atividade da população por concelho, em 2001. Fonte: Medeiros (2006)

Como seria de esperar, os valores mais elevados de taxa de atividade da população verificam-se nas áreas de maior dinamismo económico, o que significa que nessas zonas os mercados de trabalho são mais ativos em termos de criação de emprego e mais extensivos do ponto de vista das bacias de emprego que geram (Medeiros, 2006).
Figura 3 - Índice de atratividade (total entradas/total emprego). Fonte: Medeiros (2006)
  
 Torna-se evidente (ver figura 3) que as zonas urbanas de mais relevância são aquelas que apresentam também maiores índices de atratividade; expectável uma vez que serão as zonas onde existem mais dinâmicas nos principais setores de empregabilidade: Serviços, de seguida o Secundário a alguma distância, e por último o Primário (Pordata, 2013).
Figura 4 - Índices dominantes casa-trabalho, em 2001. Fonte: Medeiros (2006)
Um outro fator importante para as dinâmicas de emprego das várias regiões é a facilidade das deslocações, a mobilidade e acessibilidade. Na Figura 4 denota-se novamente que os centros urbanos mais populosos, e mais dinâmicos economicamente, são aqueles que apresentam mais capacidade de mobilidade entre “casa e trabalho” (Medeiros, 2006).
Mas não é só a diferença entre urbano e rural que marca as diferenças das dinâmicas de emprego regionais. O contexto cultural tem uma importância imensa (Medeiros, 2006). Um desses exemplos paradigmáticos é o das zonas envolventes ao Grande Porto, em que regionalmente se valoriza mais a entrada cedo no mercado de trabalho, mesmo que com qualificações reduzidas, que a continuidade dos estudos.
Não se poderá caracterizar a estrutura do emprego em Portugal sem abordar também o fator do desemprego. De um modo geral o desemprego atual resulta da restruturação do setor agrícola e das atividades de transformação, tal como de uma indústria que não teve a capacidade de se modernizar, aumentar a produtividade e competir nos mercados internacionais à medida que a economia portuguesa se foi liberalizando (Mederios, 2006; Costa et all, 2012).
Tabela 1 – População total empregada por setor de 1974 a 2012
Fonte: INE, Pordata (2013)

Como se pode confirmar pela tabela 1 e gráfico 1, desde 1974 a percentagem de população ativa no setor industrial tem caído, mas não tanto como no setor agrícola. Depois da época de expansão industrial de1950-1973 (Costa et all, 2012), e da queda do protecionismo do Estado Novo, o setor sofreu um ajustamento gradual rumo à livre concorrência e aumento dos direitos laborais, tendo-se registado uma queda de população empregada de quase 10% do total. 

Figura 5 - Dinâmica do emprego industrial. Fonte: Medeiros (2006)
Apesar da queda, algumas zonas do país mostram-se mais dinâmicas que outras (ver figura 5), especialmente aquelas ligadas a determinados clousters (Medeiros, 2006), que recorrem à especialização/diferenciação, usando tecnologia e recursos humanos qualificados, capazes de competir internacionalmente. Um exemplo disso será a indústria dos Moldes localizada na Marinha Grande e Leiria.

Tabela 2 – População empregada por setor para as NUTSIII e Regiões Autónomas
Fonte: INE, Pordata (2013)


Gráfico 1 – População total empregada por setor de 1974 a 2012 em %
Fonte: INE, Pordata (2013)


Apesar de toda a diversidade regional portuguesa, ao nível do emprego notam-se algumas tendências comuns, mesmo que algumas zonas sejam mais rurais ou urbanas, outras muito mais industrializadas e outras dedicadas ao setor primário, com os serviços empregarem percentagens muito significativas (quase sempre a maior fatia) da população ativa. De 1960 a 2001, tal como se demonstra na tabela 2, com exceção da Grande Lisboa e Grande Porto e de outras zonas pontuais (Serra da Estela; Médio Tejo; Algarve; Baixo Mondego; Entre Douro e Vouga; e Ave), a industrialização cresceu consideravelmente e as atividades Agriculturas perderam muita mão-de-obra. No entanto, o crescimento mais espetacular deu-se no setor dos serviços, num país que em 50 anos deixou de ser maioritariamente Agrícola para se dedicar aos Serviços, sem ter passado por uma economia dominantemente assente no setor industrial (ver gráfico 1).

Referências Bibliográficas
• Amaral, Luciano; 2010. “Economia Portuguesa, as últimas décadas”. Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos.
• Costa, Leonor Freire; Lains, Pedro; Miranda, Susana Munch; 2011. “História Económica de Portugal – 1143-2011”. Lisboa, Esfera dos Livros.
• Estanque, Elísio; 2012. “A Classe Média: Ascensão e Declínio”. Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos.
• Lema, Paula Bordalo; Rebelo, Fernando; 1996. “Geografia de Portugal – Meio Físico e Recursos Naturais”. Lisboa, Universidade Aberta.
• Mattoso, José; 1997. “História de Portugal - vol.IV – O Antigo Regime”. Lisboa, Editorial Estampa.
• Medeiros, Carlos Alberto (Direcção); 2006. “Geografia de Portugal”. Lisboa, Círculo de Leitores.
• Pordata; 2013. “População ativa por atividade económica”. http://www.pordata.pt/, consultado em 15 de Abril de 2013
• Ramos, Rui (Direcção); 2009. “História de Portugal”. Lisboa, Esfera dos Livros.



sábado, 13 de abril de 2013

CONTEMPORANEIDADES - Um livro indiretamente ligado a este blogue


Esta é a primeira publicação aqui no blogue relacionada com poesia, mas não poderia deixar de assinalar aqui, no meu primeiro blogue, o lançamento do meu primeiro livro. Essa primeira obra individual não tem relação direta aqui com A Busca Pela Sabedoria, mas tem uma imensa relação indireta. 
O livro em causa é o resultado do trabalho de análise opinativa social, na forma de 15 telas e 30 poemas, da realidade contemporaneidade portuguesa. Pode-se dizer que os poemas são tomadas de posição, numa mesma estrutura rígida e em rima. As telas surgem de fundos negros e recorrem, sem preocupações de traço e fidedignidade nas proporções,  ao simbólico para fazer despertar a reação emotiva.
A Busca pelo livro aberto - Micael Sousa
Porque a busca pela sabedoria passa também pela experimentação, registo aqui a referência ao livro CONTEMPORANEIDADES, deixando um dos poemas e uma das telas do projeto para tentar fazer despertar a curiosidade. A sinopse e mais informação sobre o livro em causa pode ser visto aqui.

SABEDORIA INTERESSEIRA

Estuda para ganhares muito dinheiro! – Ordenou.
Cedo, ainda quando não podíamos entender,
Ensinaram-nos a ver no ensino o que sempre faltou
A este povo, que só agora pode aceder
Às oportunidades do saber. Quem atulhou
De ilusões este povo de humilde complexão,
Afastando-o de uma desinteresseira erudição?

A sabedoria é a maior das riquezas,
Com ela vamos além dos limites,
Preparamo-nos melhor para as incertezas,
Condicionamos os ignorantes tiques,
Encarando o mundo com uma cética firmeza.
Por vezes apenas serve para sabermos
O que verdadeiramente desconhecemos.

Mas o saber só por si não é sinónimo
De fortuna, dinheiro e sucesso.
É apenas um imaterial património
Que pode dar origem a um processo
Mais longo que qualquer matrimónio,
Mais fiel que qualquer compromisso,
Que alimenta o espírito insubmisso.

O saber pode fazer a fortuna, mas nada garante.
O saber é ferramenta que pode ajudar a ir avante.

domingo, 7 de abril de 2013

Um gole para ler os "Contos do Gin-Tonic"

Porque o surrealismo não é só uma expressão plástica, não é uma coisa só passado - mais concretamente, do início de século XX -, e porque também tivemos os nossos casos nacionais, hoje trago aqui um excerto de uma recomendação literária feita por um amigo. Quando me foi emprestado para ler achei estranho o título do livro em causa. Só depois percebi que era uma colectânea surrealista de poemas, prosas, descrições, diálogo e devaneios, sempre regados de um humor, por vezes, desconcertante. Na amalgama, que aparentemente parece composta sem nexo, há mensagens dissimuladas e outras mais ou menos evidentes. Não seria de esperar outra coisa, pois a obra nasce ainda durante a ditadura do Estado Novo. 
No entanto, a pesar de tudo, quando muito do que está escrito nos "Contos do Gin-Tonic" parece fazer pouco sentido, podemos especular se o autor teria ou não bebido uns copos a mais. 


Dois limões em férias - António Dacosta

Deixo aqui um curto excerto, somente para dar uma ideia e abrir o apetite, tal como fui aliciado quando me emprestaram o livro:

"Estendeu os braços carinhosamente e avançou, de mãos abertas e cheias de ternura.
- És tu Ernesto, meu amor?
Não era. Era Bernardo.
Isso não os impediu de terem muitos meninos e não serem felizes.
É o que faz a miopia."


Bem... Digam lá que não sentem que precisam de um copo?

sexta-feira, 29 de março de 2013

O Sentido da Vida (em 10 segundos)

Neste texto que será curto, pois a referência é igualmente muito curta - demasiado curta para tudo o que na história da humanidade se desenrolou em torno dessa grande questão. A justificação destas palavras impõem-se para referir um daquelas momentos ímpares do cinema, num filme, mas mais concretamente num sketch, onde os Monty Python resumem em 10 segundos qual o sentido da vida, depois de terem feito uma viagem de mais de 100 minutos tentando satiricamente tratar a nossa Humanidade.
Então, segundo os Monty Python, o sentido da vida é "viver bem", e para isso:

"Tentem ser bons para os outros, evitem comer gorduras, leiam um livro de tempos a tempos, façam algumas caminhadas, e tentem viver em paz e harmonia com todos os credos e nações"


Apesar de ser um filme que vi já muitas vezes, e um dos mais estimados da minha cinemateca, foi no livro "Heidegger e um Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso", de Daniel Klein e Thomas Cathcart ,que voltei a recordar este sketch. Nessa obra única, onde se mistura a Morte com a já difícil mistura de Filosofia e Humor,  refere-se, depois de várias alusões às posições e correntes de muitos filósofos, que o sentido da vida pode ser algo bem simples, tal como sumariaram os Python.

terça-feira, 19 de março de 2013

Amor Imaterial vs. Amor Material: Platão vs. Lucrécio


O amor imaterial, direcionado para o belo e para o ideal, mantendo as distâncias, é bem conhecido, especialmente nas interpretações medievais dos escritos de Platão. Essas noções reforçadas pelas teologias e pelo sistema valorativo religioso medieval – que abominava a existência material e mundana - influenciaram as sociedades ocidentais desde então. Mas da antiguidade grega herdamos muitas outras filosofias e modos conceptuais de lidar com o amor, por exemplo os epicuristas e os hedonistas encontram-se entre alguns dos mais importantes. 


O beijo - Klimt

Em “Os Filósofos e o Amor” as autoras optam por citar principalmente dois pensadores/escritores da antiguidade greco-latina para personificar dois modos antagónicos de pensar e viver o amor. Aude Lancelin e Marie Lemonnier, nessa singular obra, colocam em oposição Platão e Lucrécio, ainda que ambos procurassem minimizar os impactos negativos do amor, pois sabiam que é tanto essencial como inevitável para nós humanos viver existências onde o amor marca sempre presença, seja em que modo for.
Platão - como já referi - defende um distanciamento físico, no sentido de amar e aspirar ao ideal e não tanto ao plástico e físico, podendo o sentimento nunca ser corporizado. De um modo simplista – mesmo muito simplista - manter certas distâncias, uma vez que amar era inevitável e que poderia amar ideias, seria para o filósofo muito mais seguro e evitavam-se assim as emoções indiretas e reações negativas (algumas delas violentas) que podem contribuir para a infelicidade. Parece que Platão desistia perante o amor físico, não porque não fosse bom ou um prazer, mas porque amar corporeamente podia trazer mais malefícios que benefícios. Já o poeta Lucrécio segue, notando os mesmos perigos que Platão, pelo caminho exatamente oposto. De modo a evitar a dependência de uma só pessoa e outras fontes de potencial infelicidade, que poderia levar à autodestruição do individuo que ama, o poeta romano opta pelo recurso ao excesso carnal, pelo amor físico sem quaisquer limites, num claro comportamento materialista e hedonista.
Apesar da simplicidade com que tentei apresentar estes dois autores e suas teorias/posturas, podemos facilmente constatar que o amor desde há muito é visto como uma dicotomia: bem/mal. A condição humana, e os problemas de há 2000 anos, continuam a invadir as nossas mentes contemporâneas. Ainda hoje há quem siga, mesmo que inconscientemente, estes dois extremos, independentemente dos vários conceitos de amor: ora distanciando-se dele ora consumindo-o em sofreguidão descartável. De qualquer dos modos, ambos as abordagens denotam algo que se poderia considerar sendo medo, receio esse que cada uma e cada um de nós tenta resolver do modo que melhor pode, optando outros pelo meio-termo. Parece-me estas questões continuarão sempre atuais ou não fossemos animais sociais condicionados, para o bem e para o mal, pelas emoções.

Referências Bibliográficas
  • Lancelin, Aude & Memonnier, Marie. "Os Filósofos e o Amor". Tinta da China, 2010.

segunda-feira, 11 de março de 2013

A Criança Nasceu com o Renascimento


Hoje, quando olhamos para uma criança vemos uma criança, mas sempre foi assim. Antigamente, na época medieval, as crianças representavam-se como pequenos adultos, sem se constituírem como uma idade “própria”, com as suas próprias caraterísticas e distinções. As crianças medievais tinham um valor e importância bem diferente das de hoje.
É a partir do século XV que se institui um novo modo de representar a criança na arte, especialmente a mais retratada das crianças: Jesus. Nessa altura começam a surgir em várias obras, nas cenas da natividade e em outras representações onde se incluíam os primeiros momentos ou anos da vida, manifestações de um jesus com os traços característicos dos recém-nascidos e/ou crianças – jesus deixa de ser representado com gestos de santificação e abençoamento para passar a ser uma bebé ou criança perfeitamente normal (notar o trabalho de Jan Van Eyck). Isto poderia ser visto apenas como uma evolução das técnicas e dos gostos plásticos e artísticos, no entanto era a própria sociedade que começava a mudar e as crianças a ganhar um destaque sem precedentes. Mas essa ascensão foi lenta. Por exemplo, é no século XVII, nos retratos encomendados pelos mais abastados, que começam a surgir crianças com roupas distintas dos adultos. 
A Virgem Maria amamentando - Jan Van Eyck
Voltando ao século XV, encontram-se outros indícios que parecem atestar a mudança de mentalidades. Enquanto autores como Montaigne referem que perder vários filhos bebés “é um desgosto mas não um lamento”, outros pais tendiam a guardar retratos dos seus rebentos prematuramente falecidos. Por outro lado, Kochanowski assumiu um comportamento de mudança, tendo dedicado a sua melhor obra à sua filha que morrera aos 4 anos. 
Durante toda a Idade Moderna foi crescendo sem cessar a importância e atenção dada às crianças, e com isso desenvolveu-se naturalmente a própria educação, e pode-se dizer que surgiu a pedagogia. Os catecismos e os cantos corais de crianças foram os primeiros reflexos da importância que se começou a dar à instrução dos mais novos – numa altura em que isso não se separava da religião. 
Os colégios medievais, por mais estranho que nos possa parecer, não faziam distinções de classes por idades; essa metodologia pedagógica só viria ser adotada posteriormente. O interesse do professor pelo desenvolvimento dos alunos limitava-se à transmissão de conhecimentos e à melhoria da capacidade de memorização. Os estudantes eram, em tempos medievais, vistos como grupos de causadores de conflitos com as comunidades onde os estudos se davam, ou seja, de má fama, apesar de ligados o clericalismo. isto ocorria especialmente nos estudantes universitários.
Foi então entre o século XV e XVII que se ganhou consciência efetiva, e irrefutável, de que a criança e o adolescente eram seres diferentes dos adultos, e que precisavam de um tipo especial de proteção – para o bem deles e da própria sociedade. Esses primeiros pedagogos defendiam que a disciplina era o único meio de proteger as crianças do mundo corrompido e de as preparar para uma existência de hábitos virtuosos. Com um forte sentimento religioso à mistura, consideravam que os professores tinham as almas dos alunos a seu cargo, sendo responsáveis pela conduta moral das crianças, e indiretamente dos futuros adultos que viriam a ser. 
Desde os primeiros séculos após o período medieval a pedagogia continuou a mudar, desenvolvendo-se novas teorias e métodos pedagógicos, tal como novos e mais aprofundados modos de ver as crianças. No entanto, pode-se dizer que a criança, tal como a pensamos e vemos hoje, terá nascido no renascimento, ainda que hoje saibamos que na antiguidade a pedagogia já tivesse séculos de desenvolvimento – já Aristóteles dizia mais ou menos isto: “educai as crianças para evitar castigar os homens”.

Referência bibliográficas:
  • Delumeau, Jean. "A Civilização do Renascimento". Edições 70, 2004

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A Busca pela sabedoria - criado em Agosto de 2009 por Micael Sousa



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