terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Portugal - Um País Históricamente Dependente do Exterior

Portugal, atendendo às caraterísticas geográficas não se distingue da vizinha Espanha quando se tenta comparar os dois lados da fronteira (1). No entanto, as fronteiras seguiram, sempre que possível, as linhas de água e cumeada de algumas serras. Tal como Espanha, Portugal vaira nas suas características geográficas de Norte para Sul e do Litoral para o Interior. Talvez por isso se afirme (2;6) que Portugal, enquanto realidade geográfica independente, é uma criação puramente humana. Talvez por isso mesmo se justifique a uniformidade e coesão do território nacional. Ou seja, Portugal nasceu no norte litoral e expandiu-se para sul (3), agregando as novas a diferentes zonas ao longo da reconquista, e posteriormente nas ações de povoamento e dinâmicas internas de ocupação que tentaram desenvolver o território. As várias zonas agregadas contribuíram com determinadas características para um todo nacional interdependente (3). Por exemplo, de um modo resumido: do norte atlântico saíram as grandes massas humanas, a nobreza medieval e a definição da repartição social; do norte interior o sistema municipal e organização concelhia; e do sul a economia urbana com forte relação com a área rural (1). Também as fortes tradições migratórias internas, trabalho sazonal e comércio contribuíram para a homogeneização nacional (6).
Título desconhecido - Amadeo de Souza Cardoso

A tendência dominante de um norte que, através da reconquista se impôs ao sul mas que foi depois por ele influenciado, não são as únicas razões para a coesão nacional. Segundo Orlando Ribeiro (3;6) já existiria uma língua, e talvez culturas comuns, antes da reconquista cristã. A península ibérica, por ser um local de passagem entre continentes, ainda que remoto, conheceu ocupação humana antiga (3). Na faixa ocidental litoral atlântica - sempre a mais remota da península - desenvolveram-se culturas distintas, mas ligadas ao exterior, tanto no paleolítico (os “concheiros”) e no paleolítico (civilização dolmética). Migrações posteriores criaram, na idade do ferro, o desenvolvimento de castros fortificados em altura que dominavam a paisagem. A posterior ocupação romana, integrou os antigos castros e ordenou o território em latifúndios e conventi - surgem muitas das delimitações territoriais, cidades, vias de comunicação que ainda hoje persistem. Terão sido essas delimitações administrativas que contribuíram para a definição das fronteiras do Estado, especialmente porque os Romanos terão também atendido às diferenças étnicas nesses ordenamentos (3). Com as consequentes invasões germânicas, e muçulmanas, grande parte das delimitações persistiram, mudando, em certos casos, apenas quem exercia o poder. A influência muçulmana ocorreu mais na cultura e técnicas que propriamente em mudanças nos limites administrativos.
Com as guerras de reconquista, surgiu a necessidade de repovoar os novos territórios. Desde logo o Estado português criou dependências com o exterior, começando pela própria primeira dinastia, responsável pela independência  que era de origem borgonhesa (4). Tanto a reconquista com o povoamento dependeram do exterior: cruzados estrangeiros ajudaram a tomar as principais praças-fortes do sul; colonos cristãos migraram para os novos territórios; e foram as ordens religiosas que conquistaram os grandes territórios do sul. A dependência para com o exterior continuou, posteriormente, a notar-se na balança de transações. Desde então a produtividade agrícola de Portugal nunca foi suficiente, as terras, apesar do baixo potencial agrícola (1) nunca foram aproveitados em todo o seu potencial, ainda que a esmagadora maioria da população se dedicasse à agricultura. 
O litoral, no final da idade Média e depois com a expansão marítima portuguesa, tendeu a ser a zona mais ocupada. Lisboa foi-se assumindo também como capital e importante cidade Europeia (3), mas sempre em grande dependência, pois era apenas um ponto de passagem do grande comércio que seguia rumo ao norte da Europa  No século XVIII, quando cessaram as remessas de ouro do Brasil e o comércio decresceu, o país tentou desenvolver o território da metrópole, ainda que se tenha continuado a apostar no expansionismo colonialista em África (5).
Importante também foi a recente afirmação de Portugal sobre uma grande zona de domínio económico e político. No entanto, essa pretensão tem assentado mais na herança histórica que no efetivo domínio e controlo dessas águas (2), algo que reforça a sensação da continua incapacidade de tirar o máximo partido do território continental.


Bibliografia

  1. Belo, Duarte; Daveau, Suzanne; Mattoso, José; 2011.”Portugal – O Sabor da Terra. Um retrato histórico e geográfico por regiões”. Lisboa, Temas e Debate.
  2. Daveau, Suzanne; 1998. “Portugal Geográfico”. Edições João Sá da Costa, Lisboa, 1998.
  3. Lautensach, Hermann; Ribeiro, Orlando. 1989. “Geografia de Portugal - Comentários e atualização de Suzzane Daveau. Lisboa: Edições João Sá da Costa.
  4. Mattoso, José; 1997. “História de Portugal vol.II – Monarquia Feudal”. Lisboa, Editorial Estampa.
  5. Medeiros, Carlos Alberto. 2006. “Primórdios da evolução dos pais. A expansão marítima e os seus reflexos”. Geográfica de Portugal. Revista Portuguesa de Geografia.
  6. Ribeiro, Orlando; 2011. “Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico”. Lisboa, Letra livre.

2 comentários:

  1. A propósito do ouro vindo do Brasil,pois eu li algures que a maior parte dêsse ouro ia parar às mãos dos Mercadores ingleses para pagar o trigo importado porque os portugueses tentavam fugir ao trabalho escravo do campo e muitos tentavam chegar ao Brasil à procura do ouro.

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  2. Sim, de facto, mas também para algumas ostentações e projetos sem utilidade prática, especialmente quando era urgente modernizar o país, dando-lhe autonomia produtiva industrial e deixar de ser apenas um ponto de passagem de bens produzidos noutras paragens.

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