quarta-feira, 28 de março de 2018

Sabia que é naturalmente racista mas depende de si não ser?

No documentário “É Racista?” de 2015 exibido pela RTP3, com o título original de “The Truth About Racism”, da autoria de Paul Scott, descreve-se uma experiência social com 5 voluntários. São 5 pessoas residentes na Austrália, todos de origens éticas e raciais diferentes. De notar que irei usar aqui o termo racial não por haver mais do que uma raça humana, mas para ajudar a reforçar as diferenças físicas que aqui são importantes para compreender os conteúdos. O documentário, tem uma clara mensagem política que tenta desmontar e explicar o racismo, é inegável que tem essa intenção pelo que se deve referi de antemão. Mas não o faz através de uma análise histórica da humanidade, dos episódios mais polémicos. Foca-se, em alternativa, na neurociência, na psicologia comportamental e efeitos sociológicos das dinâmicas de grupos.


O documentário relata a forma como os voluntários são submetidos a várias experiências que, gradualmente, vão demonstrando que, mesmo os que não se consideram racistas – pois no grupo está um militante de um movimento político que defende a supremacia racial branca – tendem a adotar comportamentos claramente racistas de forma inconsciente. Numa das experiências, os vários participantes foram submetidos a uma dinâmica que consistia em reconhecer caras que iam sendo mudadas em painéis numerados. Percebeu-se que conseguiam identificar mais facilmente as mudanças dentro do seu intra-grupo étnico e racial, que nos restantes. Por exemplo: quando um asiático era substituído por outro asiático, os não asiáticos tinham dificuldade em reconhecer a substituição.

Afinal todos reconhecemos mais facilmente as diferenças de rostos dentro da nossa etnia? Parece que sim. Sendo válido para todos os grupos. Consoante estamos a analisar uma face, se for do nosso grupo étnico e racial, a maioria de nós fixa mais os olhos e outras partes mais distintivas e expressivas da face. Isto leva a uma incapacidade de perceber e ler as emoções e estados de espírito que transparecem através das expressões faciais. Noutro exercício também se demonstrou que, dentro do nosso intra-grupo étnico e racial, sabemos ler mais facilmente a rapidamente a passagem de um estado alegre para triste e irado pelas expressões faciais.

Numa outra experiência, apenas olhando para fotografias de faces que representavam a zona dos olhos e envolvente, e às quais se associavam palavras que representavam emoções positivas e negativas, os participantes tendiam a atribuir as emoções mais negativas às etnias e raças que não a sua. Há que relembrar que apenas um dos voluntários se assumia como racista.

Foram feitas experiências com crianças que demonstraram comportamentos semelhantes, numa quase sempre preferência por leituras positivas de situações dúbias quando o interveniente era caucasiano do que quando se tratava de um africano. Isto ocorria mesmo quando as situações se invertiam, favorecendo sempre os caucasianos. Seguiu-se uma escolha de bonecas com traços étnicos distintos. As crianças escolhiam as que se pareciam consigo, mas quando foi na altura de adjetivar as bonecas de “boa” e “bonita” escolhiam maioritariamente a caucasiana, mesmo que não fosse o seu grupo étnico e racial. Aqui denota-se, provavelmente, um peso dos valores sociais incutidos pela própria sociedade.

No documentário são reveladas mais experiências que seguem a mesma tendência. Conclui-se que tendemos a não conseguir ler faces diferentes das nossas, e assim a sermos puco competentes na comunicação corporal com indivíduos diferentes de nós. Tendemos a desconfiar e temer o que é diferente e á não compreensão, sendo difícil estabelecer empatia. A melhor maneira para remover estas tendências que geram intolerância e falta de empatia passa pelo fortalecimento do convívio, da interação com base em sentimentos positivos. Quantas mais pessoas um determinado individuo conhecer de outra etnia e origem racial, associadas a boas experiências, diferente melhor poderá com eles lidar e tratar com igualdade, sem preconceitos. Por vezes não é preciso forçar experiências agradáveis, basta a abertura para conhecer os outros, as suas histórias. É um ensinamento e uma cultura humana relevante para o seculo XXI. Nas sociedades multiculturais, onde as pessoas de várias etnias e que apresentem traços corporais diferentes convivam em clima de paz social, dificilmente se irá instalar um comportamento racista, pois só assim conseguimos contrariar o modo como processamos informação sobre os outros. Se não tivermos consciência destas tendências e não promovermos a integração racial como forma de cultural irão sempre pairar estes preconceitos, que são tanto biológicos como fruto das construções sociais. Temos opção. A nossa realidade não precisa de ser racista. Em súmula é isso que este documentário transmite.

Para saber mais sobre este documentário: 
https://www.sbs.com.au/guide/article/2017/01/31/truth-about-racism-there-scientific-cure


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