segunda-feira, 23 de abril de 2018

Usar um livro era uma forma prática de afirmação religiosa?

Bíblia pode ser traduzido como “livros”, do plural grego de biblion que significava, comumente, rolo de papiro. Assim o termo Bíblia aponta para um conjunto de livros num sentido largo do termo, de tal forma que o livro sagrado do cristianismo foi considerado como: O Livro. Mas este domínio dos termos, em que um objete recebe o nome de todo um conjunto pode ter razão de ser histórica e religiosa. Gregos e Egípcios usavam rolos de papiros, e em certos casos pergaminhos em quantidades massivas, sendo o caso da biblioteca de Alexandria um caso paradigmático, onde, supostamente, existiam milhões de rolos de papiros em que se reunia todo o conhecimento de então. Ainda hoje os Judeus usam nos seus cerimoniais rolos de pergaminho onde se inscreve o Talmude e a Tora, sendo elementos sagrados e simbólicos dos réus rituais.

Natureza Morta com Bíblia - Van Gogh

Sabe-se hoje ser pouco provável que tenham sido os cristãos a inventar os códices, aquilo a que hoje chamamos livros, que são, no fundo, aglomerados de folhas com uma sequência que se pode folhear e ler sem desagregação, com capa e contracapa, ilustrados ou não.  Consta que já os romanos utilizavam aglomerados de folhas, em simultâneos com os cadernos de tabuinhas de cera onde escreviam com um objeto pontiagudo e apagavam raspando a cera. Provavelmente foram os egípcios de influência greco-latina, descendentes dos construtores da biblioteca de Alexandria, que começaram a utilizar aglomerados de folhas, formando os primeiros porto-códices. Podem também ter sido os romanos como já se disse, pois há alguns vestígios escritos disso. Não sabemos ao certo se era algo comum por todo o mundo mediterrânico. O que pode ter acontecido foi uma adoção dos códices pelos cristãos como forma prática e diferenciadora de reunirem os seus textos de forma organizada, portátil e fácil leitura. Seria um elemento que os diferenciava simbolicamente e formalmente. Há que lembrar que o cristianismo, quando nasceu, era uma inovação religiosa, social e cultural pelo que não será absurdo que tenham adotado essa inovação em oposição aos usos e práticas literárias das outras religiões e influências culturais.

Posteriormente os livros (codices) tiveram uma grande aceitação sob a influência da cultura islâmica e do ressurgimento cultural do império carolíngio, com as atividades literárias a serem fortemente incentivadas nos mosteiros. Nessa altura os livros já se assemelhavam muito ao que hoje conhecemos. Ainda hoje, apesar dos das alternativas digitais, os livros continuam a ser dominantes. Curiosamente, ou não, algumas formas de cristianismo continuam a assumir muito a sua relação com os livros, especialmente com a bíblia. Algumas fazem disso ainda uma imagem de marca, ao contraria da igreja católica que foi abandonando essa relação privilegiada com o livro.

Referências bibliográficas:

Diringer, David (2011). The Book Before Printing: Ancient, Medieval and Oriental (Lettering, Calligraphy, Typography). Dover Publications.

Roberts, Colin H. & Skeat, T. C. (1987). The Birth of the Codex. Oxford University Press.

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